Expresso sem açúcar

Me lembra aqueles dias com ar parisienses, a rua bem movimentada para umas três ou quatro horas da tarde. Ela chega sem muitas palavras, sem aquele salto alto anunciando a presença, o olhar vazio, aquele mesmo olhar vazio que eu negava em perceber noites atrás, dias atrás…

E bem quando eu ia perguntar o que estava acontecendo, a garçonete vem me interromper aguardando o pedido. Pedi um cappuccino mesmo,  – italiano ou brasileiro, tanto faz – e ela, – após um longo suspiro – “Um expresso sem açúcar por favor.”

E nem deu tempo de estranhar o pedido – de quem sempre pedia café ralo passado no coador – e com um aspecto de menina com algo sufocando a garganta ela foi logo explodindo:

“Vou te falar a verdade não quero mais viver esse amorzinho meloso e sem sabor definido que temos nos últimos meses. Temos algo lindo, mas que daria tédio a Hollywood… Quero sentir drama, amor, ódio, excitação, ciúmes, me achar meio neurótica às vezes em não saber a resposta pra quando você não me atende.

Quero o amor com gosto de chocolate amargo, café assim ó – expresso, sem açúcar – que dá aquele amargo na boca que te faz despertar quando bebe.  Quero explorar o mundo, as possibilidades e nossas possíveis limitações de humanos,  sentir a vida pulsando… vibrando… a respiração mais profunda… os acordes mais melódicos…. quero a sensação da morte a cada beijo, a cada orgasmo, aquela sensação de perder o folego.

E não me importa se as vezes amarga, se as vezes dói, é isso que nos faz lembrar que estamos vivos.  E então poder, no segundo após a cada momento desse,  olhar nos seus olhos e saber que estamos bem… juntos… presentes… intensos…”

Fiquei imóvel, sem saber o que falar nada a dizer, meu coração pulava e o medo de perdê-la pela primeira vez fazia-me sentir vivo.

Sobre Roggher

Rogério Antunes é um dos idealizadores do Bordel & Whiskeria, acha divertido escrever sobre ele mesmo em terceira pessoa, atualmente focado nos prazeres simplistas da vida, pretende mudar o mundo! Começando com um blog! Visionário não?! ...Quer saber mais?! Procure o perfil do mesmo na seção de autores.
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8 respostas a Expresso sem açúcar

  1. Juka diz:

    “quero amor com gosto de café expresso sem açucar, que te amarga a boca e te faz despertar quando bebe”
    Tão delicado quanto um arroto e tão preciso quanto uma bailarina. Gosto dessa idéia de sentir-se vivo.
    Roggher, como sempre, surpreendendo com sua capacidade bizarra de descrever o inesperado. Parabéns meu caro! fantástico!

    • Roggher diz:

      Na verdade Juka eu considero esse meu texto o mais parecido com os seus textos. Ele me lembra suas boas histórias, também inesperadas!

      Tempo que não nos falamos né? Na verdade te passei um e-mail por esses dias, espero que leia.

      Acho que o Bordel tem dois escritores que estão vivendo mais e passando menos tempo online. Gosto disso! rsrsrs

      • Juka diz:

        A considerar o tempo que levo para responder seu email e pra postar algo aqui. Acredito que tenha razão!
        O Bordel tem dois escritores autênticos, porque defintiivamente eu não consigo escrever nada isolado de minha experiencia, de minha memória.. acredito que voce esteja pro ai também. Portanto, sim, vivemos mais escrevemos menos e quem sabe, melhor! Digo pro vc

        Muito tempo que não nos falamos mas fico feliz que alguma história minha tenha lhe inspirado. Eu tive um apreço especial por esse seu texto, dentre os outros que considero fantásticos! acho que isso acabo sendo um tanto qto…. egocêntrico?! kkkkkkk

        Brincadeiras a parte, nao páre, tu manda muito bem!

  2. Karine diz:

    Nossaaa estou sem palavras!!! Gostei muito… e é exatamente isso que devemos ter quando amamos… Parabéns pelo texto!! ,uito bom mesmo….

    • Roggher diz:

      Obrigado! Adoro quando um texto meu te inspira ou te faz se identificar com ele de alguma forma.

      Acho que é esse o motivo pelo qual escrevo tanto a partir de uma visão feminina, adoro capturar a sensibilidade dessas belas – e as vezes cruéis – “criaturas”…. rsrsrsrsrs

  3. Ana Carolina diz:

    Quando você me pediu pra ler eu tinha certeza que iria me identificar! E ME IDENTIFIQUEI… É CLARO!
    Você ainda me conhece bem. 🙂
    Ótimo texto!
    Acho que estou um pouco ausente por aqui, né?

  4. Karla diz:

    “E não me importa se as vezes amarga, se as vezes dói, é isso que nos faz lembrar que estamos vivos. E então poder, no segundo após a cada momento desse, olhar nos seus olhos e saber que estamos bem… juntos… presentes… intensos…”
    Perfeitoo!!!!

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